um ano da tragédia - 02/05/2022 08:28

"Tá junto. Tá morta": como avô soube que a neta era uma das vítimas da chacina de Saudades

Sarah Luiza Mahle Sehn, de um ano e sete meses, morreu no ataque que mudou a história da cidade catarinense, em maio de 2021
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O movimento nas ruas do Centro de Saudades, no Oeste de SC, segue o mesmo de 365 dias atrás. Mas a principal mudança é o sorriso de Elemar Sehn, que deu lugar às lagrimas. A neta dele, Sarah Luiza Mahle Sehn, de um ano e sete meses, é uma das cinco vítimas da tragédia que mudou Saudades em 4 de maio de 2021. Ela foi morta após um jovem de 18 anos entrar em uma creche e atacar, com uma adaga, funcionárias e crianças. Além dela, outros dois bebês e duas professoras da unidade de ensino Pró-Infância Aquarela morreram.
A convivência com a neta era sempre motivo de alegria na casa de seu Elemar. No almoço, a pequena era a primeira a sentar na mesa para aproveitar a refeição. 
— Quando o prato dela estava pronto, ela logo sentava para comer. Quando ela estava pronta, servida, ela queria lavar as mãos, a boca e dizia: “O vovô tem que ir junto”. Íamos ao banheiro, ela pisava em cima do vaso, trepava na bancada e olhava no espelho. Depois, eu lavava as mãos dela, secava e ia para fora. Lá, ela mostrava para a mãe e o pai dela. De tarde, quando ela acordava, chamava: “Vovô está na hora de levantar”. Bem queridinha — recorda. 

"Tenho uma neta lá" 
Como sempre faz todas as manhãs, seu Elemar abriu a borracharia cedo naquele 4 de maio de 2021 e começou a atender a clientela. Era por volta das 10h quando um dos filhos, que trabalha com ele, recebeu a notícia sobre o ataque na creche. 
— Meu filho viu uma mensagem e disse: “Mataram uma professora na creche, na Aquarela, mataram criança também”. Aí eu falei para uma senhora que estava ali: “Pior que eu tenho uma neta junto lá também”. Essa senhora, que eu nem sei quem era, falou “ui”. Ali eu parei na hora — conta. 
Minutos depois, enquanto se preparava para ir até o local, foi a vez do filho, pai de Sarah, dar a notícia: 
— Pai, aconteceu uma tragédia. 
— Não que a Sarah estava junto?
— “Tá junto. Tá morta”, ele disse. 
— Daí começou o desespero — disse seu Elemar, com lágrimas nos olhos e a voz embargada. 
A neta de Elemar era a mais nova das crianças que morreram na chacina. Segundo ele, Sarah estudava há pouco mais de um mês na creche. O borracheiro conta, ainda, que não conhecia o autor do ataque, mas que o pai dele era cliente na borracharia. 
— É muito difícil agora falar o que aconteceu. Ninguém esperou né? Foi um choque, porque uma cidadezinha assim, de Saudades, que todo mundo conhece todos, acontecer isso. Bem complicado — finaliza Elemar.
Além de Sarah, também morreram na tragédia Murilo Massing, de um ano e nove meses; Anna Bela Fernandes de Barros, de um ano e oito meses; Mirla Amanda Renner Costa, de 20 anos, que atuava como agente educacional na unidade; e Keli Adriane Aniecevski, de 30 anos, que era professora na creche. 

Família segue em tratamento psicológico 
Procurados pelo Diário Catarinense, os pais de Sarah preferiram não dar entrevista. Segundo Elemar, eles seguem tendo acompanhamento psicológico após a tragédia. Na época, o governo do Estado de Santa Catarina chegou a enviar à cidade 24 profissionais para ajudar a comunidade.
— Eu até fiquei doente depois de dois meses, me deu uma intoxicação no fígado, um amarelão, passei muito mal. Emagreci bastante de saudades dela — conta. 
Um ano depois, o peito ainda aperta ao relembrar da neta, principalmente os momentos de convivência diária. 
— Já faz mais tempo, né? Mas nós sempre lembramos dela, cada dia. A vizinhança conhecia, viam a gente brincar com ela. Muitas coisas aconteceram e a gente não lembra de tudo. Mas a saudade a gente nunca esquece, né? — finaliza. 

Processo segue suspenso 
Com o fim das investigações, o autor foi denunciado pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) por cinco homicídios triplamente qualificados, além de 14 tentativas de homicídios.  
A ação que apura a conduta dele tramita no Fórum da Comarca de Pinhalzinho, porém, no momento, está suspensa. De acordo com o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), o processo aguarda o julgamento de um recurso, apresentado pela defesa, sobre a sanidade mental do réu.
Conforme o TJ, três laudos — elaborados pela defesa, Instituto Geral de Perícias (IGP) e Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) — dão pareceres diferentes a respeito da saúde do jovem. Eles são importantes para definir o tipo de pena que ele irá receber pelo crime. Por exemplo, se ele for considerado incapaz na época das mortes, ele pode ser “absolvido” no processo e, com isso, ser submetido a tratamento em um hospital psiquiátrico.
Em fevereiro, o juiz Caio Lemgruber Taborda chegou a determinar que a decisão fosse tomada pelo Tribunal do Júri. Mas foi justamente esse fator que fez a defesa entrar com um recurso no TJ.
O Diário Catarinense tentou contato com o advogado de defesa do autor, Demetryus Eugenio Grapiglia, que disse que não daria entrevistas por telefone. No vídeo mais recente dele, publicado nas redes sociais, afirmou que o júri não tem condições de discorrer sobre questões técnicas e que a insanidade do réu deve ser “esclarecida em uma nova perícia”.
Ainda não há prazo de quando o novo recurso será analisado pelo TJ.
Fonte: DC
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